No final de abril, a Globo completou 60 anos de vida em uma programação especial de aniversário. Se no ao vivo o “Encontro de Vilãs” — com diálogos entre Carminha, Nazaré e companhia — foi um sucesso, no Instagram quem chamou a atenção foi uma vírgula, convidada por engano para a festa. Na hora pensei no Social media - e nos meus tempos como tal (que eles nunca voltem, amém!).
Não precisa ser ex-aluno do Dr. Pasquale para lembrar que não se separa sujeito de predicado. É só bater o olho na frase e sentir que há algo de errado. Algo sobrando. E como é impossível editar imagens uma vez postadas, uma empresa de comunicação desse tamanho publicar “Essa história, é a sua” é grave… ou não tanto?
Imagino que houve uma grande-pequena crise na equipe de redator, desginer e social, mas ninguém derrubou o post. Até agora. O que mostra que tem coisa que dá para deixar para amanhã — ou até ignorar e seguir em frente.
Lembrei de quando o CEO de uma rede de academias para a qual eu prestava serviço me mandou uma mensagem, num domingo, dizendo que era inadmissível um erro de digitação em uma copy. Ou da vez em que o Head de Marketing de uma marca de hidratantes me ligou às 19h porque tínhamos esquecido de parabenizar os esteticistas nas redes. Era o dia deles. “Precisamos de um post agora!”
Seja trabalhando numa agência ou trabalhando para elas, como faço muito hoje em filmes publicitários, o clima é sempre de sala de emergência. Pedidos a serem realizados em prazos bizarros, briefings que chegam para ontem, mudanças de última hora. O estado é de alerta, como se uma vida dependesse da cor do Pantone escolhido para o fundo das fotos de uma campanha - que será modificado na pós.
Mas será que se trabalha no limite por necessidade? Ou já é vício, costume no caos?
Para além dos fluxos de trabalho, parece que a ânsia plantada no consumidor em campanhas de "só hoje" e "últimas unidades" se tornou a cultura desse meio. O tempo da propaganda virou o tempo da publicidade, e a urgência é o protocolo.
Quando terminei a faculdade de farmácia (esperava por essa?), estagiei em um hospital, dos maiores do interior. E uma coisa que há na Saúde é protocolo. Desde como lavar as mãos e diluir comprimidos em soro até quem deve agir em situações de reanimação em parada cardiorrespiratória.
Em 2013, uma das diretrizes era restritiva quanto à administração de medicamentos como a epinefrina (adrenalina) por enfermeiros. E num turno da madrugada, um paciente entrou em parada e o médico plantonista, sem senso de urgência, demorou a chegar no leito. Minha colega que cobria o turno contou das sirenes tocando, da enfermeira com a seringa de prontidão e dos cinco minutos mortais de espera.
Eu, que já odiava o quanto a minha então profissão tinha sua atuação restringida pela deliberação médica, também morri um pouco.
Lembro constantemente dessa situação quando chega algo esbaforido acompanhado de extremamente importante. Até porque não estamos em um episódio de The Pitt e o cliente vai aprovar o figurino que eu estou arrumando durante o feriado e daí, a 5 minutos de rodar a cena, vai querer trocar.
Adrenalina só é bom para ressuscitar gente e para sentir enquanto se desce, por escolha, num parque de diversões em um dia ensolarado, uma montanha-russa.
Vou repetir isso como mantra antes de entrar em mais um ciclo de estresse:
Urgente é viver plenamente o agora. O resto é campanha.